Eu sou a Cecilia Carrilho, idealizadora do Projeto Costura que Cura, e hoje vou contar como tudo surgiu e o caminho para chegarmos até aqui, pois não há como separar uma história da outra. Tentarei ser breve e relatar ao máximo o que é a essência desse sonho.

O Projeto Costura que Cura nasceu da minha vontade de ajudar as pessoas a se profissionalizarem na área da costura e modelagem. Tendo como exemplo meu próprio caminho, entendi que para aquele que pretende ter o seu ateliê, ou trabalhar em um, é importante estar a par de todas as etapas que envolvem a profissão, mesmo que escolha uma só área para se desenvolver mais a fundo.

Diante da minha trajetória profissional, mesmo após uma formação acadêmica, me vi em situações difíceis por não ter conhecimento em algumas áreas. A faculdade ensina muita teoria, mas o tempo da prática é curto, o que nos faz sair com pouca bagagem daquela situação.

Sempre gostei da mão de obra que envolve um ateliê, principalmente a costura. Então logo depois de formada, ao começar a atender clientes e tentar produzir minhas próprias peças, me deparei com uma dificuldade em modelar corpos de pessoas reais. No curso aprendemos na gradação, diante de padrões, mas a realidade é outra e a técnica aprendida não valia para todos os corpos.

Foi aí que decidi iniciar a busca pelas respostas das minhas dúvidas. Pesquisei muito, estudei diversos métodos e, principalmente, pratiquei em centenas e centenas de pessoas ao longo do tempo. Clientes, amigas, pessoas reais que me proporcionaram essa chance de observar os resultados dos traçados em seus corpos.

Até então não havia intenção alguma de dar aulas, transformar meus conhecimentos em curso. Mas a vida nos leva a caminhos incríveis quando estamos dispostos a encarar as oportunidades.

Em um momento de muita dificuldade financeira, diante de muitas dívidas no meu ateliê eu tive essa ideia de utilizar todo o conteúdo que eu tinha e formar uma turma para testar a minha didática e habilidades como professora. Claro que no início eu era imatura, não tive o sucesso que gostaria, mas entendi que era um caminho. Eu descobri uma nova paixão que passou a me mover: ensinar. Então, poder unir as coisas que eu mais amava parecia mesmo o melhor caminho.

Ao mesmo tempo que isso tudo acontecia eu tinha em meu convívio mulheres incríveis, minhas funcionárias, vindas a maioria do nordeste. Tínhamos uma bela amizade e isso as fazia à vontade para me contar como foram suas histórias de luta e superação. Isso mexia muito comigo e me acendeu um desejo imenso de poder ajudar pessoas como elas em algum momento da minha vida.

O tempo passou, meu ateliê teve altos e baixos e, quanto mais o tempo passava, mais eu tinha certeza do que eu queria fazer. Tentei transformar aquela estrutura toda de ateliê em uma escola. O Costura que Cura nasceu no meu coração. Eu tinha estrutura para poder atender nada menos do que 15 alunos por turma. Era uma estrutura fantástica. Comecei naquele momento a compilar meus conhecimentos em uma apostila que seria utilizada nas aulas do curso e comecei a divulgação para ver se teria procura.

Não sabia muito bem como proceder com as propagandas e, mesmo assim, coisa do destino, atraía muitas pessoas do Nordeste, que imploravam por conhecimento mas não tinham condições de ir até a minha cidade, no interior do Mato Grosso. Pensei até em fazer da minha casa, que era anexo ao ateliê em um lugar para receber essas pessoas. Mesmo assim o valor ficaria inviável. Sempre fui uma pessoa muito analógica então ainda não havia nem a ideia de trazer para o on-line.

Então resolvi começar na minha cidade mesmo. Fui em busca de parcerias com empresários e com a própria prefeitura para montar uma escola que atendesse, principalmente, pessoas de baixa renda. Meu sonho era (e ainda é) levar mais dignidade às famílias. Ajudar mulheres a terem suas rendas e poderem estar presentes na criação dos seus filhos. Eu não tive sucesso nos meus objetivos naquele momento. E hoje entendo que eu não estava pronta. Como o projeto tinha acabado de nascer e era um bebê, precisava amadurecer. E eu também.

A vida seguiu, meu ateliê fechou e eu vendi todo meu maquinário e equipamentos a “preço de banana”. Estava desmotivada e achava mesmo que o problema era a profissão. Que eu nunca conseguiria atingir os meus objetivos. Então resolvi mudar de cidade e tentar a vida no Paraná.

Passei cerca de um ano trabalhando em lugares que não gostava, ganhando pouco e muito frustrada, por saber que tinha tanto a oferecer e tudo estava “entalado” dentro de mim.

Então em um desses empregos, ganhando pouco e trabalhando muito, eu dei um basta. Pedi minha demissão. E quando cheguei em casa fiz uma oração. Pedi com todo o meu coração para que Deus me alinhasse com o meu caminho, o caminho que Ele quisesse para mim. E a partir desse dia, tudo começou a mudar. As informações foram chegando como instruções dos passos a seguir.

Eu, que nunca fui uma pessoa tecnológica, descobri a possibilidade de alcançar as pessoas através da internet. Claro que sempre usei a internet como passatempo. Mas descobrir o seu potencial para passar mensagens que importam, que podem mudar vidas, me fez virar uma chave. Vi a possibilidade de conseguir meios financeiros para levar o tão sonhado curso presencial às regiões carentes que sempre quis atender.

Inicialmente pensei em finalizar a apostila, que havia começado anos atrás, e vende-la a quem quisesse para arrecadar dinheiro e poder ir levar esses cursos presencialmente. Conforme fui formatando a apostila, vi que apenas a escrita, por melhor que fosse o conteúdo, não levaria as lições da forma que eu prezo: com uma didática simples, o uso de técnicas precisas, mas com a minha linguagem de observação em relação ao corpo e os traçados da modelagem. Diante da necessidade de gravar as vídeo-aulas, ficou claro que a maior cura de todas, seriam as minhas próprias. Vencer meus medos, ressignificar meu olhar pela profissão e pela minha autoimagem para poder gravar as aulas, dentre tantas e tantas outras transformações que venho passando por todo esse tempo.

Desde março de 2019 eu trabalho incessantemente, todos os dias, durante muitas horas para tornar esse sonho viável. Em junho de 2020, como um teste, iniciei a primeira turma do curso on-line, que foi um sucesso. E muitas outras turmas já começaram após essa.

Em meio à pandemia, sendo quem sou, resolvi encarar um novo desafio. Com as aulas presenciais cada vez mais distantes, foi a partir do incentivo de uma aluna, que uma luz me acendeu. “Eu não preciso esperar a condição perfeita para ajudar ao próximo. Isso pode ser feito hoje, agora, com os recursos que tenho”.

E a partir dessa percepção, o Projeto Costura que Cura iniciou de vez a sua participação perante a sociedade. Nasceu mais uma iniciativa: o Projeto 1 para 1. Onde para cada curso vitalício vendido, outro é doado com os mesmos benefícios.
As turmas têm crescido com alunas de diversos lugares do Brasil. E isso traz uma riqueza imensa de experiências e sede de aprendizado, tanto delas, sobre o conteúdo, quanto o meu, em relação a tantas lições que elas me oferecem.

A partir daqui, é continuar abrindo as portas que Deus coloca em meu caminho.